terça-feira, 4 de setembro de 2012

Sobre o patrimônio oculto


Aos que gostam de Ouro Preto,
sobretudo aos estudantes que partilham deste sentimento
e desta luta.

Os corações dos seres humanos,
gerados todos para igual função,
morrem com combustíveis trocados:
alguns azuis, outros brancos - sem ferro.

Ainda no campo das cores,
o branco ocupa casarões,
ao passo que o negro ávido ainda rodeia senzalas.
Raros Chicos Rei’s.

Quem tem deve doar,
que seja seu fôlego,
seu verso ou sua luta,
pois doar o que sobra é apenas das esmolas.

Não que sejamos bons samaritanos,
mas o mundo é de cada um;
a boa vida de todos
é nossa boa vida.

Só existe assalto se houver quem assalta;
só há quem assalte
se há por quê;
só há por quê
se não fizermos nossa parte:
doar nossa voz, nosso tempo,
nosso fôlego e nossa luta.
Esmolas não bastam.

Os sobrenomes falam alto,
enquanto o Silva fala tímido,
na sua linguagem cotidiana e clara.

Mais do que a arquitetura e a memória,
são históricas as lutas dos oprimidos,
sem escolas, sem saúde e com solo frágil sob os pés,
ou acima do próprio corpo – morto ou quase lá.

Todos queremos o melhor,
mas não podemos o melhor apenas para nossos espelhos,
pois que todos existimos em corpos,
enquanto apenas alguns vivemos.