domingo, 27 de novembro de 2011

Gacela del recuerdo del amor

Um espaço no blog para o grandioso talento do poeta espanhol Federico Garcia Lorca


No te lleves tu recuerdo.
Déjalo solo en mi pecho, 

temblor de blanco cerezo
en el martirio de enero. 

Me separa de los muertos
un muro de malos sueños. 

Doy pena de lirio fresco
para un corazón de yeso. 

Toda la noche, en el huerto
mis ojos, como dos perros. 

Toda la noche, corriendo
los membrillos de veneno. 

Algunas veces el viento
es un tulipán de miedo, 

es un tulipán enfermo,
la madrugada de invierno. 

Un muro de malos sueños
me separa de los muertos. 

La niebla cubre en silencio
el valle gris de tu cuerpo. 

Por el arco del encuentro
la cicuta está creciendo. 

Pero deja tu recuerdo
déjalo solo en mi pecho.

Trenura indome


"Coração de estudante
Há que se cuidar da vida
Há que se cuidar do mundo
Tomar conta da amizade
Alegria e muito sonho
Espalhados no caminho
Verdes, planta e sentimento
Folhas, coração,
Juventude e fé."
(Milton Nascimento) 

Dedica tua vida a teus amigos
e a solidão será mera palavra avulsa.
Dedica-te aos livros que temos
que o tempo lecionará o caos natural
e o movimento da ordem que queremos.

Dedica tua comida aos famintos
e a fome aos famintos pelo excesso.

Tuas pernas alcançam os leopardos;
tua nuca o peso da mente insana
profana o dogma da mente em medo
ao volver o despertar do enredo
de vencer da inércia a cama.

Dedica teu amor ao amor,
e a mais nada que não seja amor.
Dedica tua dor ao gozo porvir.

Nas canelas dos canavieiros
dedica o calo ao solo em sangue,
e o mangue jorrando leite
deleite o suor ao choro langue.

Dedique-se, dedique-se
e apaixone-se, ainda que pela razão
e seu conflito com a pulsão.

Do dique em pedras some
o mar por fundo um nome.
Amar profundas feras,
plantar ternura indome.

 Divididos tome:
um coração em seu compasso,
um olho sem foco,
um cérebro aloco
ou pernas sem passo.

Num grito o miolo é laço
com olhos pelo futuro.
O coração de estudante pulsa
 o sangue presente e puro...

terça-feira, 22 de novembro de 2011

DEZabafo

Só um pequeno desabafo:
em dias que a esperança é forte
e que o mundo perde o norte
fazemos do desafio
a condição única da morte...

PS.: Hj foi um dos dias mais difíceis e mais fortificantes da minha vida...

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

O antibrilho das gemas

Há um lugar onde vivem,
juntas e regozijantes,
as idéias ensimesmadas
das almas das esmeraldas.

Tão belas e lapidadas,
geometricamente feitas,
que só vêem a si e pra si,
o espelho que nada ri.

Todas as sendas claras
das íris de lendas raras
a viver o brilho sem quilate;
as gemas ao xeno latem...

As cataratas entregam-se
maravilhas tantas e perenes,
caem e brilham e molham,
enquanto as gemas se entreolham...

As gemas abjuram-se
maravilhas tantas e insolentes,
à enclausura e ao medo de ter,
de mostrar-se e não ser.

Enquanto são apenas para si,
e para seus espelhos perfeitos,
choram escondidas as diademas
ao par de inúteis poemas.


Gemas frias, libertas da liberdade,
enquanto o olhar tem saudade...
Gostar é libertar sem alento
o vago anseio sentimento.




quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Oh política, salve, salve!


                            

Salve aquele poeta,
Salve o compositor,
Salve aquele amigo,
Que morreu enquanto estava vivo.

Salve a natureza,
Salve o velho Chico.
Salve as excelências,
Que fizeram o Chico de pinico.

Salve os deputados,
Salve os homens comprados:
Salve os veados,
Que venderam e não foram cassados.

Salve o humanista:
Salve o pedreiro,
Salve o alpinista,
Que morreu na cadeira do dentista.

Salve Sir Charlie Brown:
Salve o amor!
Salve o Pica-pau,
Que esqueceu a cueca no varal.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

O barco


O puro temor do tempo
alvorota o furor do lamento
por perder e perder e perder...

Os homens navegam sob o vento
com velas costuradas em sentimento.

Eis que as velas se desfazem
e os panos com histórias jazem
a cair sobre o mar ressecado e vazio...

O barco sombrio e a alma ao rocio
vão perdidos e sem chão
pelos gritos que choram em vão.

Não amor, vago clamor do coro apaixonado;
não amanhã, pois o mar cansou-se do passado.

Não me crêem, mas é isso tudo que levo.
Do que mais calado elevo
está meu mar de melancolia e solidão disfarçada.

Amanhece todo dia a madrugada
enquanto esquece a visão a flor destacada.

Entorpece a luz por apagar-se
e o tormento de perder e perder e perder-se.

Parado perdido o barco sem vela,
enquanto vazio esqueço o rosto dela.




terça-feira, 8 de novembro de 2011

versos livres da lei


minha natureza mais que viva extrapola
a mola rígida da lei que nada escuta:
sobra eterna a pulsão dos desalinhos.
na cordial e oculta disputa,
da puta guerra de fogos mesquinhos,
de esconder a mão, o afago e o carinho.
vou guiando  com as mãos nuas
e com os passos amordaçados nas ruas.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Nenhum lamento é nobre


Não digo meu nome
nem que me peças
e me dê teu coração;
nem que torne a mar-te,
nas estrelas digo: não!

O frio e a sede me calam
pois teu mel faltou em mim
e tua cana ficou seca e com sal;
nem coberta de ouro
ou tua rua pintada de cal.

Nem que me faças a reza,
perene façanha do faceiro florista
de eternizar a vida das pétalas;
nem que caia a roupa de Frinéia
ei de aceitar-lhe os olhos de opala.

Nem que da cabeça aos pés
os louros da vitória e fogo de Vesúvio
sirvam de vulto ao adormecido;
nem que meu nome seja praga,
nem assim, direi o meu verbo doído.

Não lhe contarei, nem a mais ninguém,
que Platão chamou-me tentação;
que o violão geme profundo
aos ouvidos do velho poeta;
dessa canção sou a razão do mundo.

Nem lhe contarei que sonhei
e ressoei como o cavaco
a espera e à doce esperança.
Não lhe falarei do quanto pequei
e que em meu nome perdeu-se a aliança.

Nem direi aos homens que Por Ela
humilhei-me diante de mim:
engoli o  punhal do talho de minhas vértebras
a dormir sobre o lenço do sol suado
em sangue e lágrimas tênebras.

Não, não digo meu nome,
nem que o conheças de batismo.
Pintei-me o Substantivo em ouro,
cambiando o nome ao altar do agora
e nesta hora o luar me tinge o couro.

Nem ressalva dou, a opor-me à negação,
pois te negaria o pouco que já tens.
Sigo a blindar-me a emoção,
a sonhar esperança de liberdade
e não mais aguardá-la na saudade.

Nem contei, não hão de se revelar
as cores das minhas doenças.
Sei que o argumento é pobre,
e nenhum lamento é nobre,
mas ácido estou - corrói o cobre.

Nem lhe contarei, enfim, sobre a pedra,
eterna rocha em que a estória cunhei,
sonhada em versos de romance.
Fugirei com o luar, rumo a luna, lá chegando,
e o fim decreto revelando: maktub é nuance.