segunda-feira, 14 de novembro de 2011

O barco


O puro temor do tempo
alvorota o furor do lamento
por perder e perder e perder...

Os homens navegam sob o vento
com velas costuradas em sentimento.

Eis que as velas se desfazem
e os panos com histórias jazem
a cair sobre o mar ressecado e vazio...

O barco sombrio e a alma ao rocio
vão perdidos e sem chão
pelos gritos que choram em vão.

Não amor, vago clamor do coro apaixonado;
não amanhã, pois o mar cansou-se do passado.

Não me crêem, mas é isso tudo que levo.
Do que mais calado elevo
está meu mar de melancolia e solidão disfarçada.

Amanhece todo dia a madrugada
enquanto esquece a visão a flor destacada.

Entorpece a luz por apagar-se
e o tormento de perder e perder e perder-se.

Parado perdido o barco sem vela,
enquanto vazio esqueço o rosto dela.