à bela Joana Rojo
Eis que canto, desafortunado,
acerca de tuas mãos frias
e de meu rosto quente.
E as mãos e os lábios e os frios,
por dentro e por fora,
tomam de assalto os minutos.
Eis que me lamenta uma pergunta,
a que não sei responder:
onde estão os poetas neste momento,
frente à necessidade de um poema revelador?
Onde estão as florestas
e as flores, em cujas sombras escondem-se
os pássaros?
Onde está a lua, envergonhada, eclipsada?
E os girassóis, onde estão tão virados ao
contrário?
As flores e os perfumes e os romances,
todos
perdidos n’algum lugar...
Onde estão Eros e Morpheus?
Onde está até, daquele que pergunta,
o
próprio olhar,
sendo que nem pôde ver?
Onde estão os símbolos poéticos mais
poéticos
e os versos mais patéticos?
Não, não posso crer...
não se habilita compreender que para tua
sinfonia estão, mas estão!
E para minha agonia e esperança,
todos estão ao teu redor no teu sono
e do teu sono acompanhados,
a tecer um véu de virtude resguardada.
Os deuses gregos
todos a velar insólitos e pasmos
a áurea
de tu sueño.
Agraciada e pintada estás,
protegida pela conspiração do universo
e pelo simples tom de meu verso.
Escondidos entre as mãos frias
e o rosto quente,
estão o poeta e o poema a bisbilhotar ...
peito ardente vai
com assustado ritmo:
sobressai a cor Roja.
Todas as mãos pelas nossas mãos
e
nossos rostos pelos nossos rostos,
depois
de muita conversa calada – prefiro assim.