sábado, 25 de fevereiro de 2012

Apoteose




Paixão é quando se pensa sem pensar;
é quando se quer de todas as maneiras.
É querer sem maneiras;
é ouvir as sereias.

Apaixonar é ver uma entre mil,
uma flor na floricultura;
é ver, do feio, a beleza.
É o vício da doçura.

Viver rolando entre rosas,
sorrir nas manhãs,
chorar nas madrugadas,
morder as maçãs.

Paixão é a louca dolência feliz.
É o paradoxo do ser.
Corpo ou alma,
subir ou descer.

18 / 07 / 2005

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Conversa calada


à bela Joana Rojo

Eis que canto, desafortunado,
acerca de tuas mãos frias
e de meu rosto quente.

E as mãos e os lábios e os frios,
por dentro e por fora,
tomam de assalto os minutos.

Eis que me lamenta uma pergunta,
a que não sei responder:
onde estão os poetas neste momento,
frente à necessidade de um poema revelador?

Onde estão as florestas
e as flores, em cujas sombras escondem-se os pássaros?

Onde está a lua, envergonhada, eclipsada?
E os girassóis, onde estão tão virados ao contrário?
As flores e os perfumes e os romances, todos
perdidos n’algum lugar...

Onde estão Eros e Morpheus?
Onde está até, daquele que pergunta,
 o próprio olhar,
sendo que nem pôde ver?


Onde estão os símbolos poéticos mais poéticos
e os versos mais patéticos?

Não, não posso crer...
não se habilita compreender que para tua sinfonia estão, mas estão!

E para minha agonia e esperança,
todos estão ao teu redor no teu sono
e do teu sono acompanhados,
a tecer um véu de virtude resguardada.

Os deuses gregos
todos a velar insólitos e pasmos
a áurea de tu sueño.

Agraciada e pintada estás,
protegida pela conspiração do universo
e pelo simples tom de meu verso.

Escondidos entre as mãos frias
e o rosto quente,
estão o poeta e o poema a bisbilhotar ...

peito  ardente vai
com assustado ritmo:
sobressai a cor Roja.

Todas as mãos pelas nossas mãos
 e nossos rostos pelos nossos rostos,
 depois de muita conversa calada – prefiro assim.







sábado, 18 de fevereiro de 2012

Cuida-te, coração


É curioso como os sentimentos
repetem-se.

Seque, coração bobo,
Antes que eu me perca
E as frases lindas se encontrem.
Seque, coração tolo.

Por que ainda vives,
Sendo que morre o resto de mim?
Faz-me logo insensível!
Morra, coração vivo!

Não vês que só resta morreres tu?
Não vês que sou hora extra?
Não percebes que definho
À falta de crença ao vago vinho?

Oh, coração resistente,
Ficas mole num corpo mumificado!
Oh, coração doente,
Manténs-te latente num corpo abandonado!

Ah, maldito coração!
Ainda resistes
Se teu destino é blindado?
Ainda choras com que sentido?

Ah, coração...
Mal sabes quão mau és tu.
Mal sabes como me faz morrerem as tranqüilidades,
Insuflando-me perdidas saudades!

Ah, coração,
Gosto quando te calas no meu sono!
Gosto quando me esqueço de ti
E quando me perco na diversão sem tua voz.

Seque, coração bobo.
Porque quinze dias de neve apenas
Não apagam os sois de tua herança.
Seque, coração tolo!

Por mil vezes te beijei,
Mas mil e uma abandonaste-me perdido.
Por uma vez a ti entreguei-me,
E noutra embriagues não me terás cativo!

Chores enquanto vives, maldito escuso,
Porque logo te matarei.
Esqueça teu lar de calor e poesia,
Pois logo te darei uma faca vadia!

                             01/08/2007