domingo, 2 de dezembro de 2012

Tolerância




Eu tolero, tu toleras e ele, ele não tolera.
Não por demasiado ignorante,
mas por não se encontrar entre nós -
tolerantemente donos da verdade – a nossa.

Ou que se encontre entre nós e seja O tolerante,
e suas palavras agora emerjam até o mundo das palavras sábias,
politicamente corretas e tolerantes

Ora,
por hora não posso emitir opinião,
eis que se encontram excessivamente tolerantes
todas Vossas Mercês, companheiros donos da minha verdade - oculta.
Eis que não se encontra em nosso reino,
o das palavras dilatáveis e adaptáveis,
o significado de coerência social – eclipsada pela alva tolerância.

Já nos deleitamos com as subjetividades
e nos deitamos por sobre as galhas maleáveis – que não estalam ao peso da verdade,
os seres deste clube tolerante
deixando de verdadeiramente expressar nossas vidas e porquês.

Tolero seus salários inglórios,
de fome de caviar e vinho franco do sul.
Tolero sua tolerância a meus erros
e teus erros me tolerando.

Proclamo os deuses mais profanos,
exaltando tua casca brilhosa
e escondendo teu destino purgatório.

Conclamo meus seguidores,
colendos,
para chamarem-te líder.

Tu e eu,
fizéramos todas as ilíadas,
mas nos falta ganhar por sobre as cabeças intolerantes,
sendo donos da nossa tolerância,
de nossa verdade,
de nossa oculta razão.

Abram alas para o bloco do “tamos juntos”
que vai passar a coerência que inventamos.




terça-feira, 4 de setembro de 2012

Sobre o patrimônio oculto


Aos que gostam de Ouro Preto,
sobretudo aos estudantes que partilham deste sentimento
e desta luta.

Os corações dos seres humanos,
gerados todos para igual função,
morrem com combustíveis trocados:
alguns azuis, outros brancos - sem ferro.

Ainda no campo das cores,
o branco ocupa casarões,
ao passo que o negro ávido ainda rodeia senzalas.
Raros Chicos Rei’s.

Quem tem deve doar,
que seja seu fôlego,
seu verso ou sua luta,
pois doar o que sobra é apenas das esmolas.

Não que sejamos bons samaritanos,
mas o mundo é de cada um;
a boa vida de todos
é nossa boa vida.

Só existe assalto se houver quem assalta;
só há quem assalte
se há por quê;
só há por quê
se não fizermos nossa parte:
doar nossa voz, nosso tempo,
nosso fôlego e nossa luta.
Esmolas não bastam.

Os sobrenomes falam alto,
enquanto o Silva fala tímido,
na sua linguagem cotidiana e clara.

Mais do que a arquitetura e a memória,
são históricas as lutas dos oprimidos,
sem escolas, sem saúde e com solo frágil sob os pés,
ou acima do próprio corpo – morto ou quase lá.

Todos queremos o melhor,
mas não podemos o melhor apenas para nossos espelhos,
pois que todos existimos em corpos,
enquanto apenas alguns vivemos.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

MAR PORTUGUÊS

Um dos meus poemas favoritos, de autoria do Genial Fernando Pessoa.
Sempre que algum sonho se torna desafio, leio e me motivo bastante.
Gostaria de compartilhar um pouco de mais esta Doce Esperança.





Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!

Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.

Quem quere passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.

domingo, 12 de agosto de 2012

Escafandro



A passos lentos e precisos, 
segue o explorador pelos confins.
Seu escafandro sob toneladas
dá-lhe abrigo e prisão.

Fé nas profundezas,
pois que nela se apruma a razão das coisas.
Tudo que se pode explicar,
é claro nas profundezas pormenores.

Ao postar-se deitado nos fatos,
contudo,
suas articulações enferrujam,
pois que sua armadura
é arma, mas é dura.

Em seu amor pelas descobertas,
trama poesias no escuro:
cor, ação e luz apagados.

Eis que aparece sua linda criatura,
descoberta por ele – não criador.

Aturando seus limites
e torturando seus joelhos,
trama seus passos sem nada mirar além.

Escafandro maldito!
Fez permiti-lo as mais abissais águas,
mas lhe ceifando a cinética necessária.

Não mais a criatura ali está,
pelo resto da vida.

12-08-2012

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Estátuas



Conhece o caminho quem por ele já passou
ou por ele se atreve.
Os demais, que já ouviram falar,
pensam que o sabem.
Não se revoluciona o desconhecido.

Incautos críticos,
cítricos autos de nada.

À espera do porvir,
estáticos e com pombos lhes contribuindo para maior estatura,
acidificam a falta do que fazer,
corrompendo-se por dentro e por fora.

Ao passo da espera,
cruzam laudas e laudas de leis,
sabendo como fazer obscuro e público,
os palhaços da pós-moderna arte
de construir obras para si próprios.

E nossos pares – autointitulados cidadãos,
padecem.

segunda-feira, 30 de julho de 2012

"Vamos viver as coisas novas,
que também são boas..."

Belchior

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Poeta do futuro


E triste morreu o poeta.
Sozinho morreu o poeta.                                                                                                                            
Na noite morreu o poeta.
Triste poeta!
                              
Que muitos sequer julgavam poeta – POETA?!
Mas que ele sentia a poesia fluir de fora do mundo;
E que de dentro do coração tirava a canção;
E que em meio movimento fazia seu coração inteiro;
E que se achava no escuro;
E que tentava escapar da escuridão.

Que tentou amar e ser bom rapaz;
Que figurou valente nos jornais,
Por ser livre atleta da paz.
Escondia sua fome voraz.

Não tenho pena do poeta:
Para isso ele foi feito;
Foi feito para fazer algo que ele sequer sabia o que era.
Tinha ele o medo de saber.
Procurou fazer o melhor achando que seria, ainda, o pior:
-Dos males o menor!

O poeta sonhou com uma noite em que saísse à rua,
Sozinho;
Saiu muitas noites à rua, sozinho,
Mas não viu o que queria nas ruas.
Não viu ruas vazias como queria,
Mas viu companhias mortas de fome,
Morrendo no frio do verão e pensando no inverno.

Tenho pena do poeta;
Viu que a noite era a casa dos desabrigados.
Pensou que eles mereciam a vida da noite para pagar vida do dia,
Vida em que ele julgava haver pecado e punição;
Poeta adolescente, não tinha noção.

Mas o amor com compaixão,
Na luta contra o excesso de poder,
Contra o excesso de dinheiro e suas milícias,
Fê-lo lutar contra a pobreza;
Contra a pobreza e suas sevícias.

O poeta ouviu falar em comunismo;
Sentiu mais forte bater seu coração,
Apesar de acreditar em Deus,
Apesar de ser a favor da espontaneidade da vida.
Esqueceu o comunismo,
Passou a enxergar o mundo inteligente,
Com amor ao Pai;
Com controle sobre os tubarões da terra;
Com controle da fome com amor pela igualdade;
Com igualdade pelo amor.

O poeta quis matar, entretanto,
Virar caçador de tubarões.
Mas viu que tubarões,
Controlados por seus predadores,
São pequenas partes da cadeia da vida.

Passou o poeta a ser homem
Sem cor ou partido.
Acima de ser adolescente
E acima de ser criança.
E acima de lutar apenas por um bolso mais cheio;
E acima de lutar por ser melhor;
E acima de querer ser grande,
Maior que sua própria felicidade.

Pena que o poeta não chegará à vitória
E a ser o mais falado na televisão;
A ser o maior representante de seu país na organização.
Será esquecido e morrerá na solidão.

E triste morreu o poeta.
Poeta.
Poeta,
E poeta

Onde estiver o poeta,
Algum coração sorrirá de igualdade.
Será o poeta feliz - alma,
E os vivos em feliz fraternidade.


(2004)

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Dos lençóis em lá




Dos lençóis em lá, cobertos em lã,
vão  as rugas ao sempre eterno flerte.
Por ver-te distante, minha boca sedenta
busca-te e volta ressequida, pois sozinha.

Nas horas a ver-te as fotos,
ainda que tão estático mundo ,
ainda que sem gosto ou cheiro,
já se põe de aplausos minhas retinas

Não és meu espanto,
senão no medo da despedida
e no devaneio do encontro.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Vivo como quien



 Mais um dos antigos, ensaiando um espanhol daqueles! rs
Vivo las noches como quien,
al borde de la muerte, bajo la luna,
besa la vida recién despierta,
salva, tras milagro por fortuna.

Pero moría y nadie lo sabía.
Loco delante mi temblor
volví muerto en una noche,
después de un dulce de dolor

Entonces lo dicen:
- Tuian, ¿como murió?
- Murió mi corazón – lo contesto-
pero mi cuerpo quedó.

Entonces vivo las noches
como los que renacieran despacio.
Mientras me llamen bohemio
leo “De cameron”, de Bocaccio.

Vivo las noches como quien
murió y de nuevo vive.
Probo los sabores
de hogares donde estive.

Morí y nadie lo supe.
Delante mi temblor
volví muerto,
muerto corazón de dolor

Adelante un sendero más corto
voy hacia el amor más amado.
Sin corazón realizo  
mi proyecto olvidado.

Cuando miro unos ojos claros,
los investigo sediento,
pero sin corazón,
como una forma de aliento

Vivo las noches como quien,
murió e vive la canción de Neruda.
Como en el Poema 20
que olvida e vive el placer sin duda.

Dejando mi corazón en su tumba,
llevo mis huesos por el sendero.
Así como los que miran la vida
tras casi morir de desespero.