quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Todos teus movimentos


 (a minha grande amiga Helena Providelli, com o carinho, admiração e respeito que a tenho)

Todos teus movimentos,
causa primeira dos ventos,
empurram contra as velas dos marinheiros
que se atrevem no teu mar.
- Vai, marinheiro!, caçar as flores de Helena,
regadas a lágrimas escondidas e a desejos profundos...

Todos teus movimentos excitam as flores
e a elas nada mais resta de vida
que não seja esperar...
talvez por tuas mãos dando-lhes sol,
talvez por teus olhos dando esperança,
talvez por tuas lágrimas,
dando-lhes água e sal,
talvez tão somente por tua boca: alimento...

Todos os teus momentos,
no sonho de algum marinheiro
em busca das flores que tu fazes feliz,
e da própria dona das flores esperançosas,
são estáticos ou extáticos.

Como os marinheiros, que se perdem ao mar,
buscando tesouros como os teus,
tu perdes a cada momento um brilho,
que se esvai de ti,
marca em relâmpago o ar em que passas,
intumescendo-o momentaneamente
e deixando saudade depois...


As flores de Helena e seus perfumes
deixaram saudade em mais um marinheiro.
Raras flores, da Guerra de Tróia
e da derrota dos homens – sejam gregos ou troianos-
pelos olhos, pelas flores e pelo perfume...


Pobres marinheiros!
Escravos do desejo que forneces as flores,
escravos da luz e da ilusão que deixas no ar,
escravos das procelas e dos temores,
escravos... de tudo que brota das flores e de ti,
escravos
de todos os teus movimentos...
Todos...

  2009

Plantador de sementes




Planto sementes em cada coração que eu amo,
porque quem cultiva uma semente
tem não só a esperança de um broto que surge,
mas também a força da natureza que prevalece.

Quem as faz viver
me terá vivo...
E quem as mata
me terá morto.

Planto minhas sementes nos corações,
porque quero quem goste de frutos;
quem frutifique o querer;
quem ame – amor seja qual for.

Planto,
porque quem delas cuide
me terá sempre lá,
cortando frutos em forma de sóis.

Que sou?




Que sou eu, senão um ser tão remoto
na imensidão de uma mente tão mais perdida?
Que sou eu,
senão a falta de quase tudo que amo 
e daquilo que quero mais profundamente?
Que sou eu, então,
senão mais um ser humano?

Senhor, escute:
meu canto ecoa rumo ao futuro,
como o de todos os que vêem o mundo escancarado.
Não canto o presente
porque quero que as crianças continuem a dormir.

Senhor, por favor, clamo, escute:
meu canto não é do céu à Terra abençoada,
mas da sofreguidão ao drama explícito!

Não canto à natureza
porque dela estão aí seus filhos destruidores.
Não canto ao respirar
porque falta ar no mundo dos homens.
Não canto à arte
porque hoje ela só existe comprada.
Não canto ao amor
porque eles vivem para matar.
Não canto...deixo que se cale por um minuto
toda voz com que tenho lutado
e, resoluto, solto as rédeas agora.

Senhor, oh, Senhor, que antes tive como certo:
meu canto não é de amor,
é  a dor de quem me ama,
querendo que eu não parta rumo ao cadafalso.

Que sou, senão um não-ser tão repleto de não-vida?!
Que sou, se sonhos não aparecem ao espelho?!
Que sou, se amor não realiza o tempo?!
Que sou? Qual pouca coisa posso ser,
se minha força pouco move meus sonhos?
Se tudo que faço é perdido,
quem sou?! Para que estou?

Senhor...

chiede colui che non sorride più!

Hacia mi mismo

(mais um em espanhol; com o devido perdão pelos erros cometidos -rsrs)




Yo viví. Si ¡yo tuve una vida!
Aunque de claveles plásticos
y de lunas sin rostro,
yo la tuve – ¡vea en mi pecho postro!

Hoy, mi casa ya no es mi casa,
mi amor ya no es mi amor…
mi sangre volvió gris
pues respirar me hace infeliz.

Yo tuve una madre.
Ella vive,
pero ella desapareció.
¡Murió!

Tuve sueños…
que les faltaran ubicación.
Los viví y algunos perdí.
Hoy lucho por otros ahí.

Tengo un solo hogar:
mi cerebro.
Aunque humano
no me deja beber la sal insano.

Yo tuve un amor, ¡si, yo lo tuve!
Por el, cambié mis pensamientos,
escupí a los vientos que lo parían,
- mis ojos a media luz sonrían.

Pero él asesinó mis esperanzas
con un puñal llamado cinismo,
de mi ombligo las sangres corrían.
- Mis ojos al oscuro entristecían…

¡Dejadme!
Construiré un castillo a mi rededor.
¡Quien lo busque bajará al abismo!
Ahora, retorno a mi mismo…

                       15/04/2008

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

IGUALZINHO A VOCÊ


 (poema feito pelo meu pai fluminense, que me enche de alegria! Grande abraço, Mestre Henrique!)




Hoje, vendo médicos pra lá e pra cá, escrevo - te,
Pois lembro - me que num dia,
Navegando pelas teias da poesia,
Deparei - me com tua existência.
Através da rede digital,
Louco mundo virtual,
Sensibilidades, muito riso, euforia,
Afinidades, trocas de vivências,
“Sofrências”.

Destino sacana e brincalhão!

Até deparar - me com a real constatação:
Aos poucos, em cada digitação,
Percepção do que não foi,
Mas poderia ter sido.
Sábio reconhecimento em ti do filho perdido,
Do filho que tanto desejava ter tido.

Sim, bem sei que irás me contestar
Que teus primeiros choros não socorri,
Nem teu primeiro sorriso eu vi,
Que não me fiz presente
Em  tuas primeiras tentativas de no mundo andar,
Que não estava por perto
Para das primeiras porradas da vida
Te proteger, amparar,
Que não te li um livro,
Contigo não joguei futebol,
Nem  te contei uma história.
Sei, bem sei que não te ajudei a escrever, rascunhar
A maior parte de tua trajetória ...

Mas, cara, podes crer,
Se o cara lá de cima
Tivesse me dado a graça de um filho ter,
Gostaria que ele fosse igualzinho a você!



27/04/09

A uma amiga distante




Nos caminhos e descaminhos de tua cintura,
eu, com a boca repleta de gosto e de loucura,
perco e acho fortunas cada vez mais febris.

E parece que no caminho eu te mato sedento,
sem que eu precise ferir-te.
E no descaminho parece que te encontro
sem que eu tenha qualquer sobriedade.

Porque é sempre sereno após tuas turbulências.
Porque é excitante me perder e me achar,
assim como é esplêndido te buscar;
assim como é gratificante te sentir vibrar.

A noite fria e o frio dos pés e das mãos
confundem-se com as peles flamejantes.
E lá no fundo os corações batem serenos,
quentes como poucos objetos conhecidos podem ser.

Nos nossos conflitos e pazes,
as palavras ríspidas e as reconciliações
sempre acabam em alguns sorrisos gostosos.
E sempre se cortam as tempestades
para que as marés inspirem nosso querer mútuo.

Resta-me lembrar que logo me perderei outra vez,
cavalgando numa tempestade de confusões mentais.
Mas o que me lembra a vida é notável:
acharei mais uma vez os caminhos da tua cintura.

E nos descaminhos me encontrarei centenas de vezes.
E, se as centenas de vezes teimarem em não ser,
buscarei mais pedras para traçar mais caminhos.
Calcarei milhares de pedras, infinitas pedras,
até que tua loucura seja de prazer
E minha sede seja de trilhar todos os labirintos de tua pele.

E nos caminhos, traçados por trilha de pedras seguras
e por mordidas em tua cintura,
Farei questão de me perder sempre.
Para perder-me e me encontrar em ti.

Tranqüilo desbravador,
porque nem sempre o coração é tão importante
quando a gente possui completude de alma.
Porque eu te quero,
eu sou teu cais de agonia e de braços abertos na dor.
Porque sou frio,
criarei dúzias de corações explodindo para te aquecer.
                                            20/09/2007 (00:25)