Que sou
eu, senão um ser tão remoto
na
imensidão de uma mente tão mais perdida?
Que sou
eu,
senão a
falta de quase tudo que amo
e daquilo
que quero mais profundamente?
Que sou
eu, então,
senão
mais um ser humano?
Senhor,
escute:
meu canto
ecoa rumo ao futuro,
como o de
todos os que vêem o mundo escancarado.
Não canto
o presente
porque
quero que as crianças continuem a dormir.
Senhor,
por favor, clamo, escute:
meu canto
não é do céu à Terra abençoada,
mas da
sofreguidão ao drama explícito!
Não canto
à natureza
porque
dela estão aí seus filhos destruidores.
Não canto
ao respirar
porque
falta ar no mundo dos homens.
Não canto
à arte
porque
hoje ela só existe comprada.
Não canto
ao amor
porque
eles vivem para matar.
Não
canto...deixo que se cale por um minuto
toda voz com
que tenho lutado
e,
resoluto, solto as rédeas agora.
Senhor,
oh, Senhor, que antes tive como certo:
meu canto
não é de amor,
é a dor de quem me ama,
querendo
que eu não parta rumo ao cadafalso.
Que sou,
senão um não-ser tão repleto de não-vida?!
Que sou,
se sonhos não aparecem ao espelho?!
Que sou,
se amor não realiza o tempo?!
Que sou?
Qual pouca coisa posso ser,
se minha
força pouco move meus sonhos?
Se tudo
que faço é perdido,
quem
sou?! Para que estou?
Senhor...
chiede colui che
non sorride più!