quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Que sou?




Que sou eu, senão um ser tão remoto
na imensidão de uma mente tão mais perdida?
Que sou eu,
senão a falta de quase tudo que amo 
e daquilo que quero mais profundamente?
Que sou eu, então,
senão mais um ser humano?

Senhor, escute:
meu canto ecoa rumo ao futuro,
como o de todos os que vêem o mundo escancarado.
Não canto o presente
porque quero que as crianças continuem a dormir.

Senhor, por favor, clamo, escute:
meu canto não é do céu à Terra abençoada,
mas da sofreguidão ao drama explícito!

Não canto à natureza
porque dela estão aí seus filhos destruidores.
Não canto ao respirar
porque falta ar no mundo dos homens.
Não canto à arte
porque hoje ela só existe comprada.
Não canto ao amor
porque eles vivem para matar.
Não canto...deixo que se cale por um minuto
toda voz com que tenho lutado
e, resoluto, solto as rédeas agora.

Senhor, oh, Senhor, que antes tive como certo:
meu canto não é de amor,
é  a dor de quem me ama,
querendo que eu não parta rumo ao cadafalso.

Que sou, senão um não-ser tão repleto de não-vida?!
Que sou, se sonhos não aparecem ao espelho?!
Que sou, se amor não realiza o tempo?!
Que sou? Qual pouca coisa posso ser,
se minha força pouco move meus sonhos?
Se tudo que faço é perdido,
quem sou?! Para que estou?

Senhor...

chiede colui che non sorride più!