A cidade não pára
e os homens a imitam,
sem saber que suas veias
tornam-se autopistas;
sem saber que seu sangue
torna-se esgoto;
sem saber que seus ossos
se tornam edifícios financeiros.
A madrugada se torna desafogo de metas,
cujas estipulações são ditadas por máquinas
e fiscalizadas por homens robotizados.
Tudo bem,
a economia não pode parar,
pois logo seremos dez bilhões.
Enquanto alguns mil concentram o molho de tomate,
porque a economia é de apetite voraz
e só come à francesa,
outros bilhões bebem, comem, inspiram e piram
o lixo que sai das indústrias.
O mundo, o planeta – “o globo”,
para se adestrar aos termos da globalização,
recebe rins, pulmões e cérebro:
rins de Marte, que não polui seus líquidos;
pulmões de Marte, que não fuma chaminés;
cérebro de Marte, coitado!, que não tem
civilização inteligente para utilizá-lo.
Tudo de Marte.
Até porque lá o Chaplin ainda não nasceu
e os tempos ainda não são modernos.
Ah, Marte! Suas cidades ainda têm noites!
Sua economia não vale mais que a vida!
Até porque seus habitantes ainda são verdes.
Marte, oh, Marte!
Sua “Destruição Criadora” ainda não cuida dos homens, criando-os ao destruí-los,
cambiando-os por um chip mais evoluído.
Marte, vermelho de seres subdesenvolvidos,
seus seres inferiores –vulgo animais – não são como os daqui,
que olham para os seus donos,
pensando que qualquer bípede
é adestrado por uma doutrina artificial.
Seus seres não condescendem sentir pena de seus dominantes.