sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Conversa calada


à bela Joana Rojo

Eis que canto, desafortunado,
acerca de tuas mãos frias
e de meu rosto quente.

E as mãos e os lábios e os frios,
por dentro e por fora,
tomam de assalto os minutos.

Eis que me lamenta uma pergunta,
a que não sei responder:
onde estão os poetas neste momento,
frente à necessidade de um poema revelador?

Onde estão as florestas
e as flores, em cujas sombras escondem-se os pássaros?

Onde está a lua, envergonhada, eclipsada?
E os girassóis, onde estão tão virados ao contrário?
As flores e os perfumes e os romances, todos
perdidos n’algum lugar...

Onde estão Eros e Morpheus?
Onde está até, daquele que pergunta,
 o próprio olhar,
sendo que nem pôde ver?


Onde estão os símbolos poéticos mais poéticos
e os versos mais patéticos?

Não, não posso crer...
não se habilita compreender que para tua sinfonia estão, mas estão!

E para minha agonia e esperança,
todos estão ao teu redor no teu sono
e do teu sono acompanhados,
a tecer um véu de virtude resguardada.

Os deuses gregos
todos a velar insólitos e pasmos
a áurea de tu sueño.

Agraciada e pintada estás,
protegida pela conspiração do universo
e pelo simples tom de meu verso.

Escondidos entre as mãos frias
e o rosto quente,
estão o poeta e o poema a bisbilhotar ...

peito  ardente vai
com assustado ritmo:
sobressai a cor Roja.

Todas as mãos pelas nossas mãos
 e nossos rostos pelos nossos rostos,
 depois de muita conversa calada – prefiro assim.