segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Nenhum lamento é nobre


Não digo meu nome
nem que me peças
e me dê teu coração;
nem que torne a mar-te,
nas estrelas digo: não!

O frio e a sede me calam
pois teu mel faltou em mim
e tua cana ficou seca e com sal;
nem coberta de ouro
ou tua rua pintada de cal.

Nem que me faças a reza,
perene façanha do faceiro florista
de eternizar a vida das pétalas;
nem que caia a roupa de Frinéia
ei de aceitar-lhe os olhos de opala.

Nem que da cabeça aos pés
os louros da vitória e fogo de Vesúvio
sirvam de vulto ao adormecido;
nem que meu nome seja praga,
nem assim, direi o meu verbo doído.

Não lhe contarei, nem a mais ninguém,
que Platão chamou-me tentação;
que o violão geme profundo
aos ouvidos do velho poeta;
dessa canção sou a razão do mundo.

Nem lhe contarei que sonhei
e ressoei como o cavaco
a espera e à doce esperança.
Não lhe falarei do quanto pequei
e que em meu nome perdeu-se a aliança.

Nem direi aos homens que Por Ela
humilhei-me diante de mim:
engoli o  punhal do talho de minhas vértebras
a dormir sobre o lenço do sol suado
em sangue e lágrimas tênebras.

Não, não digo meu nome,
nem que o conheças de batismo.
Pintei-me o Substantivo em ouro,
cambiando o nome ao altar do agora
e nesta hora o luar me tinge o couro.

Nem ressalva dou, a opor-me à negação,
pois te negaria o pouco que já tens.
Sigo a blindar-me a emoção,
a sonhar esperança de liberdade
e não mais aguardá-la na saudade.

Nem contei, não hão de se revelar
as cores das minhas doenças.
Sei que o argumento é pobre,
e nenhum lamento é nobre,
mas ácido estou - corrói o cobre.

Nem lhe contarei, enfim, sobre a pedra,
eterna rocha em que a estória cunhei,
sonhada em versos de romance.
Fugirei com o luar, rumo a luna, lá chegando,
e o fim decreto revelando: maktub é nuance.