domingo, 19 de junho de 2011

Motivo insistente




Dê-me um motivo pelo qual lhe escrever.
Confesso tímido: quero-te e quero-te no papel,
no lençol e lenço molhado em sol.
Os bem-te-vis cegos ainda são mal-não-vi.

Seguem ausentes as palavras
e silencioso o som ao teu nome.
As rosas só se fabricam as negras,
e o vermelho coagulou sem brilho.

Sabe o inculto que da alma maior
brota gigante dor quando se sabe,
mas não se sabe dizer, não se habilita ter.
Ignoro, inabilito e choro.

Dê-me um motivo para lhe querer,
pois querer já lhe quero
e saber já o sei.

Doce vento,
segue o cavaleiro voltando do front.
As árvores contra si e seu cavalo
demonstram que ainda resta pele
e que a dor não o abandonou,
como o riso o fez.

Verdes ramos,
galhos tantos e destino,
entretanto, distante –ausente como nós,
galga buracos como o galope no chão.

Ainda me restam apenas os motivos
para escrever à dor.
E não há letras de ti,
nem para ti,
e nem nós a seguir.