segunda-feira, 2 de abril de 2012

Infância perene



Poete, poeta, que a vida lhe exige o verso.
De todas as dores de distância,
destas, das quais já te vacinaste – precariamente, diante do patógeno resistente,
sobram muitas palavras, e encaixadas.

Teu pai lhe torna o verso elegante,
e tua luta o torna desfacelado, revolucionado.
Tua família vê no verso o tanto que te ausentaste
e “perdeu” vínculos.

Restou-me o pedido de desculpas;
compreendam, junto com o pedido de perdão,
meu justificado verso de ser um menino sozinho.
Com tanto auê, tendo tanto causado e a causar,
ainda sou o menino sozinho, de oito anos, brincando na varanda – no interior.

Das tardes intermináveis,
do desenho animado e do almoço da vovó,
o que me resta é exatamente o que ainda sou:
aquele cavaleiro do zodíaco esperando a janta.

Poeto por essa saudade e pela esperança.
Pela recordação do que ainda sou, distante;
pela esperança de viver onde sonhei, no reino encantado.


 Abril de 2012