domingo, 8 de janeiro de 2012

Pois não tem explicação


Um poema muito grande,
mas pequeno diante do tanto a tentar
ser explicado inutilmente.

Eu, que não posso explicar se a curva da montanha
é curva do céu,
que não joguei pela vitória – pelo jogo joguei,
caio dez e levanto nove vezes.

Eu, que errei o erro,
atirando dardos nos nervos em meu espelho,
que senti, mas não pressenti...

As palavras não consertam nada,
tão menos comprovam se a cerejeira
existe ou não;
se não há cereja e não há árvore,
de nada servem as palavras a justificar.

Eu, muito
que pouco sei, que muito desconfio,
tenho sentido tanto e sem sentido.

Eu, que não entendo, mas tento explicar,
equivoco e vomito os versos:

Sabes de meu desejo,
da promessa pela vida que já não tenho
e da vontade que não domino.

Sabes de minha carnificina,
matando os sonhos,
e da minha engenhosidade,
arquitetando-os novamente para, então,
tombá-los mais uma vez.

Tu, entre tantas, tu.
Encanta-me tu,
que canto tu!

Oferecerei minha respiração para teu nome;
meus dedos para teus cabelos;
meus cabelos pela tua paz;
minhas letras para teu júbilo;
meus ombros para tua tristeza.

Eu, que oferecerei o mais cálido e simples amor,
não terei mais pernas,
ou as terei sem medula que as tonifique e coordene.
Forçosamente caminho com os joelhos dobrando em todos os sentidos
e com a face sem nenhum deles.

Eu, que aos braços abertos e oferecedores de mim mesmo,
não tenho mais lógica que organize
ou sensação que capte ou semeie este meu amor.

Tu, jamais saberei quem tu és.
“Jamais” se chamará meu livro, com tua foto
e de capa vermelha  - do meu sangue por tua vaidade.

Tu, inspiração e aspiração,
vontade e volúpia, mesclados.
Tu, canção e cena,
drama encerrado em lágrima.

Tu, nunca mais saberei tua boca,
pois te esqueces do princípio
e de nossos desfrutes,
em que os medos não haviam.

Tu, que te olvidas do pouco que temos
de vida.

Tu, que me és tanto
e nada.

Não sei, eu que já não saberia,
explicar.
Coisas que não tem explicação...

Tu, mil e duas vezes tu,
que conto para não perder,
mas que insisto perder mesmo assim.

Tu, fênix e beija-flor,
pensa a vida anunciando-a partida,
sem saber onde chegar.

Tu, cujos braços erguem
a esperança de toneladas,
mas que teme a leve pluma de um coração.

Não! Eu não sei mais sentir
o que emana de mim,
ou o que temes tu de tão tenso
e tão pesado sortilégio.
Não sei quantas vidas tirastes,
ou quantos pecados hás de sustentar,
enquanto a virtude opera anunciada.

Eu, que já não sei explicar a vida,
desejo os sentimentos da morte.
Eu, que ignaro anseio,
lamento a sorte.

Não, esta tristeza não é bela
nem o verso é pobre.
Nem todo grande amor e nobre,
ou afortunado nos senderos.

Eu, que não falarei sobre “nós” no futuro,
não me atreverei a escrevê-lo
ou descrevê-lo.
Não hão de sonhar
os meninos que não conhecem o amor.

Eu, que não falaria amor,
não o diria, por não me atrever.
Não hão de amar
aqueles que não  se entregam a tal.

Eu, sacrifício em ferida e nervos à mostra,
entregue ao capataz nervioso,
com a lâmina na cintura,
não vejo o céu acima
e nem o chão abaixo.

Sabido que pouco sei,
que nada direi de novo
e tudo revelarei de velho,
digo que nada disso importa.

Eu, que ainda estou sem me levantar
pela derradeira vez.

Sabem as árvores, que estão ao vento e à chuva,
que nada disso importa,
pois não tem explicação.