sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Parei na praça



Depois do tédio da minha casa,
Mesmo ele reduzido por Drummond,
Decidi que minha noite era na praça.

Caminhando por Santa Tereza,
Sinto, em suma, alegria.

Estas ruas de interior,
Com excelsos de mundo moderno,
Com sentimentos da vida.
Todos!
Um deles quando se passa em frente ao bar,
Que exala um cheiro de cerveja
E a plenitude do êxtase.

Outro, ao cruzar outra esquina,
Com a cena de um casal:
Amor!!!
Amor?
Talvez um calor excessivo - ou a precedência de um calor maior.
Quem sabe?

Seguindo entre silêncios, muitos,
Passando por sons,
Alguns oriundos de conversas
De gente de todo tipo.

Palavrões ao celular,
Uma cantada lançada:
- Eu te amo!
Ou
-Vai pro inferno!
Até um
- Adeus!
Como é triste o fim!

Andando acerco a praça.
A “capital do bairro”.
Capital sem grandes avenidas – apenas com o movimento delas.
Sons de carros-sons,
Festas de dez metros.
Barulhos que fazem vibrar minha barriga,
Não de emoção, ainda não,
Não ainda no coração.
Mas tão somente na barriga,
Apenas no corpo móvel da força dos sons.

Quando paro na praça...
A linda Duque de Caxias!
Que emana uma música,
Um chorinho que faz,
Agora sim,
Vibrar o coração.

A canção sai do alto de um coreto reformado,
Desta praça reformada,
Que trás sentimentos imutáveis, eternos.

Palmas ao fim do chorinho.
Sorriso de muitos jovens
Que fazem do escuro da praça
Uma treva sem fim e aplaudem o fim
Daquela “sessão terceira idade”,
Do martírio que os atormenta.

É quando vejo um conhecido.
Finjo que não vi,
Continuo escrevendo...
Tenho medo de perder o pouco da praça,
A linha da descrição.
É pouca a inspiração,
Como pouca é a luz sob as árvores.

O conhecido?
Ele finge que não me vê também...
Mas insiste em fingir que eu não fingi que não o vi.
E vem tautológico...
Pronto!

...

Volto à praça depois.
Mesmo não tendo saído dela.
Volto, observando as cores
Nesta primavera em que estamos
Em flores.
E flores de concreto.

No contraste do mundo,
Revelado na praça,
Vejo moleques.
Alguns que exibem suntuosos pares de tênis roubados.
Como é o tempo!
A tempos, roubavam-se aqui beijos ímpares;
Beijos quentes em noites frias.
Ah, o tempo trabalhador do mal!

Mas eu amo Santa Tereza.
Aqui me sinto grande,
Mesmo sendo pouco pra ela – amor platônico!
Sou amante insistente;
Amante perseverante.

Muito obrigado, diz o mundo,
Grato pela filha Tereza,
Que pode não ter sido santa
Assim como é o dono mor da praça.

Gracias, diz o músico,
Até a próxima.

A noite degrada.
A vida dorme...
Exceto aqueles casais que se amam – ou se amam, apenas!

Vai-se baixando a poeira de poluição,
Levantando a história de mais um povo
Habitante dessa praça, meu lar,
 Com seu mundo de forma simplória
E a praça cheia de glória!

2004